Sou muitas coisas... sou português, sou informático, sou filho, irmão, tenho a sorte de ser marido de uma mulher extraordinária, e a sorte também de ser pai. Ser pai é uma das muitas coisas que sou, e é, só por si, ser muita coisa.
Neste texto não tenho nem poderia ter como objectivo enumerar todas essas coisas. Por um lado porque a minha experiência como pai é relativamente recente. Por outro porque acredito que a experiência de ser pai seja algo ligeiramente diferente para cada pai. E acredito também que, para cada pai, o significado de “ser pai” vá evoluindo, conforme os nosso filhos vão crescendo, e nós com eles. Além disso, ser pai de uma menina deve ser algo diferente de ser pai de um menino… e ser pai de uma bebé de um mês é certamente diferente de ser pai de uma menina de 10, ou de uma mulher de 30… Posto isto, só posso falar do que para mim tem sido ser pai de duas meninas, uma de 3 anos e outra de (quase) 8 meses.
Talvez faça sentido começar por dizer uma ou duas coisas sobre o que era, mais uma vez, para mim, não ser pai. E terão mesmo de ser poucas coisas porque conforme o tempo vai passando vou deixando de me lembrar como era a minha vida antes de ter as minhas duas meninas. Lembro-me, por exemplo, que achava uma falta de originalidade que praticamente todos os meus colegas de trabalho tivessem fotografias dos filhos na secretária. Claro está que agora faço o mesmo... Lembro-me também de achar que não tinha tempo para nada. Hoje em dia continuo a achar que não tenho grande tempo livre, mas acredito que vou tendo tempo para o mais importante. Achava que quando fosse pai nunca iria fazer muitas coisas que via outros pais fazer… e que agora faço todos os dias.
Quando “engravidámos”, muita gente me disse que muita coisa ía mudar, que ía ficar (lá está) sem tempo para nada, que devia aproveitar para dormir, etc, etc... Olhando para trás, acho que o meu maior receio era mesmo a falta de sono. Isso e os cocós. Passados 3 anos, já lido melhor com as noites mal dormidas... mas, minha nossa... ainda há cocós que metem medo.
O momento do nascimento da minha primeira filha foi uma mistura de emoções... parti para esse momento já com uma mistura considerável: receio de que alguma coisa não corresse bem, curiosidade para conhecer a minha filha, receio também de cair para o lado na sala de partos e de deixar a minha mulher sozinha… se bem que agora me apercebo que ela ficaria tudo menos sozinha, e que, verdade seja dita, os pais são a coisinha menos útil naquela sala. A este “bouquet” emoções foram adicionadas outras tantas no instante em que vi a Alice pela primeira vez… A angústia por não me terem chamado a tempo de lá estar no instante em que ela nasceu, a preocupação com o estado da minha mulher, o medo de pegar na minha filha e que ela se desmontasse… De tudo o que senti acho que o que recordo com mais clareza foi a minha reacção quando vi a cara dela: estava tão curioso para saber como ela seria, e estava à espera de ficar surpreso ou eufórico. Fiquei de facto supreso, mas foi por sentir algo que não estava à espera. Assim que a vi, a primeira coisa pensei foi algo como… “Mas claro, ela não podia ser de outra forma qualquer, só podia ser assim”. Não senti a criação de uma ligação com a minha filha naquele momento… o que senti foi que essa ligação sempre existiu. Não senti o que se sente quando se conhece uma pessoa nova, mas sim o que se sente quando se reencontra alguém que sempre fez parte da nossa vida.
Para mim, ser pai foi deixar de ser o centro do meu mundo, mas ao mesmo tempo aperceber-me que faço parte do centro do mundo das minhas filhas, e da importância que tenho para elas. Ser pai é saber que a prioridade são elas, e ter a certeza e sobretudo a segurança de que, na dúvida, o melhor a fazer é o que é melhor para elas. Isto só por si foi uma grande ajuda. Tornou muito fácil a tomada de determinadas decisões, e fez com que outras deixassem até de ter de ser tomadas. Por outro lado passei a ter de tomar algumas decisões difíceis, porque saber que o melhor para elas, no imediato, as vai deixar infelizes. Ser pai é também aguentar as facadas no coração nestas alturas...
Não sou académico mas sou apaixonado pela ciência. Sei algumas coisas mas sei que sei muito pouco, que muito mais há para saber e que, pior ainda, cada vez há mais para saber. Cada vez me interesso por mais coisas, e ao mesmo tempo sei e que nunca vou conseguir saber tudo o que gostaria de saber. Ser pai ajuda-me a lidar com esta frustração, porque por muito pouco que pense que saiba, há sempre algo que tenho a ensinar. E se não consigo aprender tudo o que gostaria, posso compensar com aquilo que posso transmitir às minhas filhas. É trocar alguma da felicidade em aprender pela felicidade de as ver a elas aprender. E aperceber-me também que com elas não tenho só muito a ensinar, mas também muito a aprender.
E é também aprender músicas. Muitas músicas. Antes trauteava Pearl Jam, Massive Attack ou Sigur Rós. Agora dou por mim no supermercado a assobiar músicas do Panda ou da Xana Toc Toc.
Ser pai, para mim, é também querer melhorar como pessoa. Se é verdade que nas minhas filhas consigo ver algo do que tenho de melhor, também é verdade que nelas vejo por vezes o reflexo do que tenho de menos bom.
Ser pai é aceitar que algumas coisas não podemos mudar, e que o melhor que podemos fazer é aceitar o que nos é dado, e com isso fazer o melhor que conseguirmos.
É ver na mãe das minhas filhas o amor que tem por elas, e os sacrifícios que faz por elas… E é por essa razão querer estar à altura dela e querer merecer fazer parte da nossa família.
RF
Adorei. Love you my friend 💕
ResponderEliminarObrigada Elisabete!
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