sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Manual de sobrevivência


(Outubro/2015: este texto foi escrito há 11 anos. Peço que lhe dêem o devido desconto e que vão fazendo as actualizações necessárias sempre que se justificar)
Pretende este texto ser uma espécie de manual de sobrevivência para mães de primeira viagem ou mesmo mães recorrentes que, se forem como eu, quando voltarem a passar pelo mesmo já se esqueceram de tudo. Tentarei ser o mais abrangente possível e ir actualizando conforme me forem ocorrendo mais coisas.
Na maternidade
Isto agora muito a sério. Não sejam simpáticas. Não sejam mártires. Não aceitem visitas de quem não vos apetece, era o que mais faltava. E não queiram fazer mais do que aquilo que conseguem. Um parto deita uma pessoa abaixo e a pessoa tem o direito de estar em baixo, ponto final.
Preparem-se para não dormir nada de jeito.
Em casa com um recém-nascido
Eu sei que isto já foi dito montes de vezes, mas nunca é demais: aceitem TODA a ajuda que vos for oferecida, TODA. E mesmo assim vai saber a pouco. Não tenham vergonha de se "aproveitar" da amiga que pergunta o que é que pode fazer - se ela pergunta é porque quer ajudar! Como dizia uma amiga da minha mãe, nem que seja a vizinha a oferecer uma sopa, tudo é bem-vindo! Se for possível, arranjem quem faça a lida da casa, nem que seja só durante os primeiros tempos; façam compras online ou mandem outra pessoa encarregar-se disso. E por fim, se o que vos está mesmo a apetecer é ir às compras e deixar o piolho com os avós/tios/amigos, façam-no! Nas palavras do pediatra da Inês, a maternidade não é uma prisão. E não se sintam mal com isso!
Falar é fácil, mas tentem deitar-se a dormir quando o bebé dorme. Acreditem em mim, uma casa desarrumada não é tão grave como uma mãe desesperada de sono!
Partilhem tarefas com os vossos mais-que-tudo. Quando eu vim da maternidade, eu acordava para dar de mamar à bebé, mas depois deitava-me a dormir enquanto o papá mudava a fralda.
Não sei se isto é comum a todas as recém-mamãs, mas aconteceu comigo e assustei-me um bocado até perceber que devia ser normal, portanto aqui fica o aviso: uma mulher depois do parto fica com o termostato todo avariado. Eu chegava a deitar-me com pijama e dois roupões (isto em Maio, portanto vejam!), para acordar duas horas depois alagada em suor (pois pudera!...). Ainda hoje não estou totalmente recuperada, mas aquelas primeiras semanas foram por demais!
Compras para o bebé
Não quero nem consigo estar aqui a fazer uma lista exaustiva relativamente ao enxoval, mas há alguns pontos-chave que quero referir, a saber:
1) Roupa: nada de fatos de duas peças soltas. Aquela imagem da bebé de colo amorosa com um vestidinho foi claramente criada por quem nunca teve filhos. Os vestidos, t-shirts, camisas, etc são o que menos jeito dá vestir a um bebé de colo. O melhor mesmo são bodies e babygrows, o bebé está sempre composto e nós nunca temos aquela sensação de os estar a despir de cada vez que lhes pegamos.
E outra coisa: as roupas das marcas C&A e H&M, além de não serem caras, podem ir quase todas à máquina de secar roupa. Nem imaginam o jeitão que isto dá, além de que se tirarem a roupa da máquina de secar assim que o ciclo acaba nem é preciso passar a ferro... e todo o tempo é pouco!
Há ainda uma outra loja muito em conta que é o Chicco Center, em Queluz de Baixo, com roupinhas Chicco de colecções antigas a preços acessíveis. Não são tão práticas como as da C&A e H&M, porque não dão para ir à maquina de secar e algumas até têm de ser lavadas à mão, mas a qualidade é incomparavelmente superior. Estamos a falar de casaquinhos de 50 euros vendidos por 15... Também é uma excelente opção para sapatos - já se sabe que os sapatos Chicco são os melhores, e ali chegam aos 50% de desconto.
Outra marca boa por outras razões é a Moara. Também tem algumas peças que podem ir à máquina de secar, não são todas, mas algumas podem, mas principalmente tem bodies traçados até aos três anos. Isto é daquelas coisas que a gente não imagina antes deles nascerem, mas os bebés ODEIAM positivamente que lhes enfiem coisas pela cabeça abaixo. Os bodies traçados são uma óptima invenção, e a maior parte das marcas só tem até aos 3 ou 6 meses no máximo.
2) Lavagem da roupa: qualquer detergente para bebés deve ser bom, suponho, mas para as nódoas realmente difíceis não chega. Quando eles são mesmo bebezinhos pequeninos e as únicas nódoas realmente más são as dos cocós líquidos que saem das fraldas, nada como Blanka Oxi-Action na vertente deixar-de-molho-em-água-quente-antes-de-pôr-na-máquina. É remédio santo! Depois quando isso deixa de ser um problema porque eles já comem sólidos, os sólidos começam a ser o verdadeiro problema. Para isso o Oxi-Action (pelo menos a versão em gel) não é tão bom. Bio-Shout da Johnson's, em spray, faz maravilhas (a menos que a sujidade seja mesmo muita, aí só mesmo deixando de molho em Oxi-Action)!
E quando já nada disso resulta e as nódoas de fruta e legumes nos fazem perder a cabeça, o bom velho sabão azul e branco sobre o tecido molhado, deixa-se ao sol umas horas e lava-se normalmente a seguir.

3) Acessórios para dar biberão: pela minha experiência não há como a marcaAvent, é cara mas compensa largamente. A bomba ISIS é fenomenal! Só tem um senão - tem de se comprar tudo da mesma marca. O esterilizador de micro-ondas Avent foi um achado, os biberões são óptimos, as tetinas uma maravilha em termos de adaptação do bebé. Mas um biberão Avent de 260 ml não cabe num aquecedor de biberões Chicco, por isso convém ter tudo pensado antes de comprar seja o que for. Sete meses depois considero que teria passado muito bem sem o aquecedor de biberões, mas claro que na altura não adivinhava e foi mesmo dos artigos que pensei serem mais necessários. Puro engano. O banho maria serve perfeitamente para aquecer o leite materno, e para o artificial a água aquece-se no micro-ondas. Vivam as modernices 
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4) Banheira: quem me dera ter sabido disto mais cedo!... Em qualquer grande superfície se comercializam as banheiras Onda da OK Baby. Foi a melhor compra que fiz para a Inês. Ela adora tomar banho ali e eu adoro não ter de fazer força para a segurar. (Nota: na Prenatal também há mas custa mais do dobro)

5) A tesoura das unhas para bebés da marca Modelo não é tão bonita como a da BebéConfort, mas é muito mais barata e tem a vantagem de REALMENTE cortar as unhas... e agora perguntam vocês, e como é que ela sabe isto? 
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6) Brinquedos: vão-se habituando. Aos olhos deles não há pianinho, boneca, carrinho nem geringonça inventada por marcas de brinquedos caríssimas só para nos extorquir dinheiro que chegue aos pés de uma colher de pau, da caixa dos toalhetes ou de um pacote de lenços. Porque é que continuamos a gastar dinheiro? Boa pergunta...
7) Caixote do lixo para fraldas: podemos sempre optar pelo saco do lixo vulgar, claro. É muito mais barato, sem dúvida. Mas para quem pode gastar um pouco mais, o caixote do lixo especial para fraldas da Sangenic é MUITO bom. Faz tudo o que diz que faz, palavra de honra. Tenho um no meu quarto desde que a Inês nasceu e juro que não há cheiros. Vende-se na PreNatal e penso que também noToys'R'Us e na loja PinkBlue. As recargas custam entre os 8 e os 12 euros, consoante o sítio.
8) Uma loja muito completa: tive a sorte de me deparar com a loja Tanyenquanto procurava as mobílias para o quarto da Inês. Um pouco fora de mão a menos que se more no Entroncamento, mas eu estou em Queluz e valeu-me bem a deslocação. Têm tudo (incluindo o tal caixote da Sangenic e excepto a banheira Onda da OK Baby, grande lacuna, grande lacuna) e tudo no mesmo sítio, o que é bom. Têm também um atendimento espectacular, uma simpatia cativante. Não voltei lá porque não voltei a precisar, mas recomendo vivamente.
Amamentação
É de facto das melhores sensações que já tive, mesmo quando dói um bocadinho ao princípio. Não quero aqui entrar em fundamentalismos do estilo e-quem-não-amamenta-não-é-boa-chefe-de-família, quem não tem leite não tem mesmo e antes um biberão de leite artificial que uma criança a chorar de fome, mas vale a pena insistir na amamentação e não desistir ao primeiro contratempo. Um conselho para quem não tem mamilos (é o meu caso): protectores de mamilos de silicone. Eu tenho da PreNatal, mas acho que os da Avent são melhorzitos. Nunca me gretou o peito, nunca tive problemas e a Inês pegou no biberão com a maior das facilidades, e mesmo estando a beber biberão há algum tempo nunca recusou a mama.

Julgo que os protectores de mamilos também são uma boa solução para quem tem gretas ou feridas. Eu tive uma vez umas borbulhitas e dei-me muito bem comBepanthéne. Experimentei Gretalvite e odiei 
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Beber muita água, mesmo muita água: quanto mais água mais leite, palavra de honra que é verdade. Parece que o chá de funcho também ajuda, mas atenção: só se o vosso leite não for abundante, senão ficam com o peito tipo pedra e dói imenso. E preparem-se para um apetite voraz; eu tenho a sensação de que passava o tempo a comer.
Convém levar uma bomba de tirar o leite para a maternidade, para o caso de o leite ser demasiado abundante e/ou subir numa altura em que o bebé não está convosco. Bomba manual, claro, que as eléctricas parece que fazem muito barulho.

Um conselho que me deram e que realmente vale a pena: naquela altura em que o bebé parece que não faz mais nada a não ser mamar, arranjem um espaço onde o possam fazer confortavelmente e onde tenham à mão o telefone, o comando da TV, água, uns petiscos e um livro. Depois mentalizem-se de que vão passar aí MUITO tempo 
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 É a melhor coisa, enquanto eles mamam nós podemos aproveitar para nos distrairmos um bocadinho, e isso faz-nos muito bem, além de que reduz a sensação de que não temos tempo nenhum para nós.
Ah, e atenção à postura. Isto é mesmo importante. Amamentar dá cabo das costas se não for feito correctamente. Agora há umas almofadas em forma de ferradura gigante que são óptimas para apoiar o bebé enquanto mama e que depois podem servir para outras coisas (se comprarem a almofada com a antecedência devida até serve para dormir naquela última fase da gravidez em que não temos posição). Sei que em Lisboa estão à venda na Lua Azul do Colombo e em Faro há numa loja chamada Mamaminha na Praça d'Alandra (julgo eu).
À laia de conclusão

Toda a gente tem uma opinião a dar. TODA A GENTE. As mães e sogras que foram mães há 30 anos, as avós que foram mães há 50, as tias que nunca foram mães mas cuidaram das sobrinhas, as amigas que nunca foram mães e nem imaginam o que as espera quando forem. Curiosamente, as amigas que foram mães há menos de 5 anos são as que menos abrem a boca, com certeza porque ainda têm a memória fresca. E os tios pediatras também. Antes falassem mais 
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Confesso que a minha reacção normalmente é deixar vir ao de cima a minha insegurança e a minha teimosia. Não é boa ideia. É uma mistura explosiva que tem como resultado mandar umas bocas ríspidas ao autor do conselho e depois passar horas com dores de estômago porque não só me chateei com alguém de quem gosto e que me quer bem como fico com remorsos e-se-agora-acontece-alguma-coisa-a-culpa-é-minha.
Mas isto sou eu e o meu mau feitio. É claro que a vontade que dá é mandar calar tudo e todos. Mas também é preciso usar de bom-senso e tentar não fechar completamente os ouvidos a todos os conselhos, porque no meio de tudo há-de haver quem saiba o que diz. Ou como costuma dizer a minha avó, foi ela que foi comprar um xaile à minha prima nascida em Novembro e que não parava de chorar, quando o próprio pai da menina que é pediatra não se lembrou de que ela devia ter era frio!
Se fosse hoje, teria comprado o marsúpio que me disseram que não valia a pena. Eu achava que valia, o dinheiro era meu, não teria feito mal nenhum. Mas também teria dado mais colo à Inês. Não que ela tenha tido pouco colo. Mas se eu tivesse dado mais ouvidos às gerações anteriores e menos aos livros, tê-lo-ia feito com mais gosto e menos como último recurso. Ou seja, como em tudo, há que haver equilíbrio. Boa sorte para o encontrarem. Eu acho que ainda estou à procura 

Karla

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